Já faz umas três ou quatro semanas, era domingo de dia das mães. Como todo ano, nesse dia, sempre saímos para almoçar e confraternizar tamanha importância da data. Mas como sou uma jovem um tanto quanto complicada, é claro que eu tinha que estragar os planos da família. Acordei bem cedo para um domingo e já me vesti correndo. E ao chegar à sala, me deparei com meu pai, atento ao jornal e minha mãe no sofá ao lado, cena corriqueira de um domingo de manhã.
Ao chegar arrumada para sair na sala, meu pai rapidamente se virou surpreso me perguntando aonde eu iria, tudo ao olhar atento de minha mãe e foi quando eu olhei pra ela que lembrei. Era o dia das mães! Ao responder a meu pai que o motivo de minha saída repentina matinal era que eu precisava, mais que tudo, dos ingressos para o Rock in Rio, me senti totalmente errada, poxa, era o dia da minha mãe. Antes de meu pai responder a minha atitude desesperada, meu irmão mais velho me chamou no corredor, em um tipo de sussurro e eu fui ver o que era. Ele segurava três grandes embrulhos, me deu um e outro ao meu irmão mais novo que chegava atrás coçando a vista, como se tivesse sido forçadamente acordado. Voltei à sala e entreguei o presente a minha mãe seguido de um forte abraço e de um "feliz dia das mães, você merece" meus irmãos vieram atrás com os outros embrulhos que ela abriu enxugando os olhos em uma tentativa frustrada de esconder as lágrimas.
Depois de todo o ritual, minha mãe virou pra mim e em um sorriso disse que era pra eu ir comprar os ingressos, que já que eu queria muito, eu tinha que correr atrás. No fundo ela sabia que eu não podia deixar que esses se esgotassem sem, no mínimo, que eu ficasse arrasada. Meu pai disse que me levava e que iriam almoçar pelo shopping mesmo, fiquei feliz, mas com um pequeno sentimento de culpa. Ao chegar à fila quilométrica, encontrei duas mulheres a minha frente, pedi uma informação a mais nova sobre o sistema de compras e notei que se tratava de mãe e filha. Pareciam simples, a filha ouvia musica em seu mp3 e evitava qualquer tipo de contato com o mundo fora do dela naquele momento. A mãe, simpática, vez ou outra puxava certos assuntos sobre o tempo ou sobre o futuro evento no qual estaríamos prestes a marcar presença.
As duas, de certa forma, pareciam formar uma família, como se a mais velha fosse mãe solteira e a mais nova, filha única. E que a mãe, estava ali, pelo motivo mais importante de sua vida, a filha, como se esta fosse a razão de seu viver. A filha comentava alegremente com a mãe sobre como ansiava o show, o que fazia com que a senhora sorrisse sozinha, como se sentisse feliz por poder ter proporcionado toda aquela alegria à sua filha. Com a vestimenta preta e o som alto e revoltado que vinha de seus fones, pude perceber que aquela jovem estava ali por ser uma grande fã e admiradora de Guns N' Roses e Metallica. E em uma pequena conversa percebi que também gostava de Maria Gadú, contrariando minha idealização de que seria uma roqueira e descobrindo aspectos que possuíamos em comum.
Chegando perto do posto de venda, depois de horas esperando, as duas se abraçaram em forma de comemoração, como se estivessem esperando por aquilo há muito tempo e tivessem economizado cada centavo para o tal evento. Ao ver a cena sorri sozinha e quando me viu ali sorrindo olhando a demonstração de afeto, a mãe também sorriu pra mim, como se quisesse mostrar o quanto se apresentava feliz.
Depois de estar com os ingressos em mãos, vi meus pais chegando e a primeira coisa que fiz foi abraçar minha mãe, agradeci e pedi desculpas pela mudança dos planos, ela sorriu, disse que dia das mães tem todo ano, mas que uma oportunidade daquela não era sempre que eu encontrava. Logo depois, mãe e filha vieram se despedir agradecendo pela companhia, não pude deixar de agradecer também. Ao se virarem para irem embora, a filha abraçou a mãe e encostou sua cabeça no ombro materno e assim foram caminhando, satisfeitas. E com aquela cena, percebi o verdadeiro significado do dia das mães: o amor incondicional, o contentamento com a felicidade do filho e o esforço para trazê-la. Indo embora minha mãe me perguntou se eu estava feliz pela minha esperada conquista, eu disse que sim, não necessariamente por causa dos ingressos. Ela sorriu. E assim foi meu domingo de dia das mães, que é sempre lembrado ao escutar uma música de Maria Gadú: “De todo o amor que eu tenho, metade foi tu que me deu. Salvando minha alma da vida, sorrindo e fazendo o meu eu.”
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